Nada mais parece florescer por aqui
Nada mais parece mudar a palidez
desse bege constante que se atesta em mim
Eu tô tão sem vida
Não há mais brilho em mim
E em nada que eu faço
Só se vê poeira
Não semeio sonhos
Tampouco flores
Meu chão é duro e nada nele prospera
Tudo agoniza e desespera
Eu tô tão seco
Amargo
Quebrado
Rachado
Árido
Desértico
Tudo em mim morre
Ou nem nasce, se nasce logo morre
Nada em mim dura
E tudo simplesmente passa
Eu gero escassez
Eu não abundo
Tudo em mim dura bem pouco
Nem tristeza, nem felicidade
Tudo passa bem longe de mim
Porque aqui não se tem vida
Eu to tão seco
Eu sou infértil
Não cativo o cultivo
Nem desejo de assentamento, eu tô sem teto
Não sou morada de ninguém,
Quem me frequenta, logo me deixa
Não há vida restante
Quem tentou, sumiu
Não há quem se estabeleça
Sou inóspito
Eu tô de passagem
Não sei se volto
Não há jeito possível de restaurar essa paisagem
Já passei por ciclos diversos
Poucas coisas mudaram por aqui
Não vejo sinais breve de uma chuva
Nada que pareça humanizar essa minha existência
Oásis.
Nada
Nada que me faça reorganizar os olhares e as perspectivas
Sigo sem rumo
Ou melhor, parado
Sinto o peso dos anos nas costas e nos calcanhares
Tenho sede e antes fosse de água