Quando Eu Era Chuva
Quando Eu Era Chuva

Quando Eu Era Chuva

Atirava-me em ti

E tu te deixavas molhar

Rolava em teu rosto até secar

Eu me fazia durar o quanto podia na tua pele quente

Prolongava o meu curso em ti até te penetrar 

E por fim, amava ser absorvido por teus poros

Dentro de ti, eu sabia que pertencia

Dentro de ti, eu sabia que não corria o risco de evaporar 

Você não se importava comigo

A minha insistência em cair nas horas mais inapropriadas não te aborrecia 

Dizia que gostava de se banhar em mim

E que até me esperava, por vezes 

Você já conhecia meus horários 

Sabia quando eu vinha e quando eu desistia

E apesar disso, eu te surpreendia e te molhava quase sempre 

Mas com a tua permissão, eu também te fazia feliz

Você brincava debaixo de mim

Adorava o seu sorriso

O teu semblante livre, debaixo das minhas gotas, se tornou a minha mais profunda e genuína razão de existir 

E eu tinha de vir para então te fazer ainda mais feliz

Não importava se tinha dias que eu vinha mais revolta

Ainda assim, você se deixava ser tocada 

Você dizia que se sentia viva debaixo das minhas torrentes 

Eu te lavava os cabelos, a alma e as calcadas

No fim, você sempre olhava para cima

E me admirava

E me agradecia

E me reverenciava

E se despedia

Ainda molhada, com traços de mim em teu corpo, corria de um lado para o outro, mas em paz

Teu vestido ensopado, ainda rodopiava de acordo com o balanço pueril do teu corpo alegre

Não me recordo de nenhum outro momento em que te via tão plena e solta, senão quando eu era chuva.  

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