Não Sei Ter
Não Sei Ter

Não Sei Ter

Eu nunca fui de posses

Sempre fui de pouco

Sempre fui de suficiente 

Sempre fui do que me cabia

Das vezes que tentei acumular coisas, foram todas em vão

Elas meio que se esvaiam e eu não dava conta de  segura-las, de rete-las

Se foram e não me fazem falta

Continuo vivendo

Ainda respiro sem elas

Respiro até melhor, pra falar a verdade

Nunca me senti confortável carregando o peso de ter algo

Ter algo significava ter de estar ali para sempre 

E eu queria voar 

Ir para onde tivesse que ir 

Queria poder também voltar 

Mas nunca quis ter nada

Nunca senti necessidades de ter coisas alem daquelas que me cabiam nos bolsos ou no coração 

Nunca fui de juntar nada

Nunca acumulei nada que tivesse fora de mim

Eu queria era transbordar

E se fosse para transbordar, que fosse pelo afeto

Isso sim eu tinha de montes

Minhas necessidades sempre foram mais as existenciais 

Sempre preferi alimentar muito mais a minha alma do que o meu ego

Nunca fui faminto de superficialidade 

Minhas exigências eram de manutenção da presença, do olhar, do toque, do romance, do sentir, do estar

Nunca pedi nada em troca também 

O que eu dava era meu, vinha de mim, nascia de dentro e eu distribuía 

A retribuição era escolha 

Sempre fui de sentir mais do que possuir

Ter, para mim, nunca foi um verbo fácil de se conjugar, não em primeira pessoa

Nunca soube lidar com o pouco sentir e o muito ter 

Nunca me satisfiz com a ideia de expandir o que eu não pudesse sentir

Eu queria sentir tudo, mesmo que doesse muito

Queria doer de alegria ou de tristeza

Mas que fosse intenso, grande e verdadeiro 

O que não me dominava a alma não me pertencia

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Wordpress Social Share Plugin powered by Ultimatelysocial
Facebook
Instagram
Twitter