Atirava-me em ti
E tu te deixavas molhar
Rolava em teu rosto até secar
Eu me fazia durar o quanto podia na tua pele quente
Prolongava o meu curso em ti até te penetrar
E por fim, amava ser absorvido por teus poros
Dentro de ti, eu sabia que pertencia
Dentro de ti, eu sabia que não corria o risco de evaporar
Você não se importava comigo
A minha insistência em cair nas horas mais inapropriadas não te aborrecia
Dizia que gostava de se banhar em mim
E que até me esperava, por vezes
Você já conhecia meus horários
Sabia quando eu vinha e quando eu desistia
E apesar disso, eu te surpreendia e te molhava quase sempre
Mas com a tua permissão, eu também te fazia feliz
Você brincava debaixo de mim
Adorava o seu sorriso
O teu semblante livre, debaixo das minhas gotas, se tornou a minha mais profunda e genuína razão de existir
E eu tinha de vir para então te fazer ainda mais feliz
Não importava se tinha dias que eu vinha mais revolta
Ainda assim, você se deixava ser tocada
Você dizia que se sentia viva debaixo das minhas torrentes
Eu te lavava os cabelos, a alma e as calcadas
No fim, você sempre olhava para cima
E me admirava
E me agradecia
E me reverenciava
E se despedia
Ainda molhada, com traços de mim em teu corpo, corria de um lado para o outro, mas em paz
Teu vestido ensopado, ainda rodopiava de acordo com o balanço pueril do teu corpo alegre
Não me recordo de nenhum outro momento em que te via tão plena e solta, senão quando eu era chuva.