Eu não consigo pensar em outra coisa desde que você saiu por aquela porta
Deixando em mim os resquícios da tua maldita e bendita existência
Você me fez cruzar a linha tênue que separa o amor do ódio
Sinto os dois na mesma proporção
Os dois doem, me embriagam e me cegam da mesma forma
O bem e o mal de você moram ainda dentro de mim
Ambos são gigantes, brigam por espaços, num embate incessante para saber quem vai comandar meus dias daqui por diante.
Tráfego entre esses dois mundos constantemente
Ao mesmo tempo em que te desejo o bem, quero te ver na sarjeta jogado a tua própria sorte e torcendo para que não tenhas qualquer sorte
Desejo-te na minha cama acolhido e quente todos os dias na mesma intensidade em que me deleito te imaginar amargando os tortuosos e tenebrosos passos da tua solidão
Não sei bem de que lado permaneço, se te odeio em vida ou se te amo loucamente até a morte: a minha ou a sua morte.
Ao mesmo passo em que me recordo com carinho todos os dias que passamos juntos, preservo um gosto de sangue-ferrugem na boca que te deseja toda a má sorte do mundo,
Eu te desejo a vida plena, porém sem qualquer tipo de benefício ou alegria que te dê o mínimo de satisfação.
Quero você sem satisfação, sem festas, sem regozijos e sem gozos
Mas te quero por perto, e te quero por dentro
Eu te anseio de todos os lados e te defenestro
Quero que tua alma seque, mas também quero ela para mim: límpida e reluzente
Eu desejo a você o mesmo que me concedeu quando decidiu me virar as costas
Mas depois, eu já te quero de volta, preso e acolhido nas memórias de um amor bem vivido e que eu guardei só para ti
Você me fez retroceder e avançar
Você me fez desacreditar e crer ao mesmo tempo no que eu não via, no que eu nunca havia, de fato, almejado.
Você me fez quere coisas que eu nunca sonhei
E depois, você me fez te odiar e te amar desvairadamente
Até hoje eu não sei qual deles me faz melhor
Você me fez sucumbir e reviver
Morro e nasço todos os dias
Tornei esses dois sentimentos os meus combustíveis
Vivo de te odiar e morro de te amar
Entreguei a você os meus melhores sonhos
Foram teus os meus melhores dias
As minhas noites eram posses suas
Atraquei num lugar qualquer de você porque me sentia seguro
Você me disse que os nossos horizontes seriam os mesmos
Eu tive fé
Entreguei-te meus tesouros, rendi a ti todas as minhas forças e crenças
Sabotei-me por inteiro
Eu me escondi do mundo em você
Hoje, em troca, tu me negas teus beijos
Hoje eu te odeio debaixo de qualquer céu
Mas ao mesmo tempo eu sinto uma vontade louca de te amar, todas as vezes, debaixo dos nossos mesmos lençóis
Todos os dias, sem ti, morre um pouco da vida que inventei e que você me permitiu acreditar
Você me deu corda, alimentou minhas vontades e saiu como se nada tivesse acontecido ou que não fosse também responsabilidade sua.
Paguei de louco por ter amado sozinho.
Eu inventei um amor só meu
Vivi histórias, construí cenários, interpretei mil personagens
Tudo isso, porque você me permitiu
Você me enganou e eu caí
Eu achei que você coubesse nisso tudo
Você simplesmente refutou
Concedeu-me desculpas quaisquer e saiu
Acho que te odeio, dentro de um amor completamente ferido e dilacerado
O meu ódio e a consequência do teu amor mal organizado e mal direcionado
Eu pensei em me vingar das formas mais estupidas e vis possíveis
Queria me vingar por cada nova ruga que eu conquistei
Por cada velho dia que não vivi, sentindo a tua falta
Por cada noite minha não dormida
Por cada palavra atravessada que me disse no momento do teu adeus
Por cada gesto mal performado daquele fatídico dia em você me deixou,
Eu te odeio por cada minuto que você não quis dividir mais comigo
Mas por mais que eu te odeie, por mais que eu te crucifique, resta em mim um amor avassalador e inerente a qualquer atrocidade que eu diga contra você.
E eu não consigo me desvencilhar, de nenhum deles.
O teu amor e o meu ódio são namorados
Um não vive sem o outro
São melhores parceiros do que conseguimos ser um dia
Sinto que amo cultivar esse ódio simplesmente porque não consigo esquecer o bem que você me fez, enquanto você esteve por aqui.
Cabe em mim o melhor e o pior de você
Eu lido diariamente com a alegria e com a tristeza que você estabeleceu na minha vida
Não consigo ser indiferente a você, sob nenhum aspecto
Isso não mesmo
Por isso, eu aceito te amar e te odiar ao mesmo tempo.
Lidarei com o antagonismo desses sentimentos até o dia que você não for mais importante para mim.
Não sei se esse dia haverá de acontecer, mas se sim, estarei feliz de ter me curado
Por enquanto, eu aceito vê-los brigar por algum espaço aqui dentro de mim
Por enquanto, eu vou continuar permitindo que eles se rivalizem e se completem
Eu te amei de verdade
Eu te amei com todas as minhas verdades
A minha parte, eu cumpri
Não vou me obrigar a fingir que você não existiu
Seria a mesma coisa de fingir que não vivi, esses anos todos, um grande amor
Ainda que ele tenha sido importante só para mim
Não quero apagar o que sinto
Eu vou viver esses sentimentos integralmente, com força
Não vou me esquivar ou retroceder
Eu me recuso a fingir que nao sinto, um ou outro
Te amarei ate quando der e te odiarei ate quando eu quiser
Certamente, eles me servirão de algo no futuro
Eu aceito continuar te amando e te odiando ao mesmo tempo
Eu não quero te esquecer, ao menos, não por agora
Seria de extrema maldade comigo destruir as lembranças que tenho do doce amargo sabor de te amar