Já não vibramos mais na mesma intensidade
Aquilo que nos unia, hoje, já foi esquecido no fundo de alguma gaveta qualquer
Não nos importamos mais com as mesmas coisas.
Já não sei mais onde estão seus discos, gravatas, perfumes, uísques ou qualquer outra coisa que te descreva ou que te defina
Nem sei mais ao certo como te defino
E isso já não é de hoje
Estranhamente, nossos tons já não são mais compatíveis
Estamos fora do ritmo, há tempos
Nossos passos já não são mais os mesmos
Estamos, na maioria das vezes, embolados e descompassados
Fugimos do nosso conforto e do nosso convívio
Já não cantamos as mesmas músicas faz tempos.
Ignoramos nossas histórias: velhas ou novas
Sequer nos importamos um com o outro mais
Não existe mais o cuidado
Fazemos parte de um mesmo vazio
Tanto faz como tanto fez
Não me lembro quando dançamos juntos pela última vez
Não me lembro mais da sua banda ou canção favorita
O que você gosta já não me soa familiar
Erro com frequência as tuas datas e as tuas notas
Não sabemos mais quais são os nossos horários.
Nossos ponteiros já não se esbarram.
Já não somos mais meio-dia ou meia-noite
Já não somos mais inteiros
Os desencontros se tornaram constantes.
Olhares distantes.
Dividimos o mesmo teto, mas nossas direções estão cada vez mais opostas.
Preenchemos cantos distintos de uma mesma casa
Não nos esbarramos mais
E quando acontece, somos estranhos
Nos olhamos, mas não nos vemos
Hoje, só percebemos vãos e espaços e abismos
Intransponíveis.
Nos desocupamos um do outro e demos chance a monotonia e ao desinteresse
Não nos cativamos mais
Não te pergunto mais sobre o seu dia
E você claramente não se importa com o meu
Onde foi que nos perdemos?
Aonde foi parar tudo aquilo que nos enlouquecia e que nos completava?
Como aquilo tudo acabou e não percebemos?
Por que não nos alertamos?
Agora e tarde
Tarde demais
Onde havia sorrisos, agora somente mágoa e rancor
Não havia mais o que socorrer ou resgatar
O amor já agonizava, respirava por aparelhos, aguardava
a minha ou a sua autorização para morrer
Ele berrava por sua falência
O nosso amor urgia por um encerramento
Talvez fosse melhor que fizéssemos logo o que já estava na cara.
Melhor que fechássemos esse ciclo o quanto antes e que cada um
assumisse a sua parcela de culpa nesse processo
Não havia nada, ali, a ser salvo mesmo
Sucumbimos todos: eu, você e o nosso amor
Tudo morto
Teríamos de lidar com essa dura realidade
Eu falhei
Você falhou
Falhamos!