Renasço quando o sol me chama
Todas as manhãs, quando possível
Nem sempre é possível
Ultimamente tem sido ainda menos
Ando lento, sem ânimo
Levo alguns segundos até que a consciência de um novo dia me tome por completo
Dou alguns pequenos sinais
Nada muito vital
Abro um olho, resmungo palavras nada conhecidas
Ainda quieto, pareço mais pra lá do que pra cá
Mas sigo respirando
Meio vivo, meio morto
Sabe-se lá
Tem dias que eu morro
Não sei bem o que me faz ressurgir
Não sei, ao certo, o que me faz emergir daquele emaranhado de lençóis e travesseiros que construo ao meu redor durante a noite
Minha cama é a minha fortaleza, cheguei a essa conclusão
Paredes firmes e sedosas
Ali eu resido em tempo integral (pelo menos eu gostaria)
Ali eu me protejo
Contra tudo e contra todos
Tem dias que eu morro
Tem dias que preciso de uma dose extra de sei la o que pra conseguir ir adiante
Nem sempre adianta
Confesso que esses dias tem sido mais frequentes
Tenho angústia diversas
Tem dias que eu gostaria de abdicar
Escapar
Escapulir
Simplesmente não existir
Nesses dias, eu queria evitar
Somente
Tem dias que eu morro
Não sei se faz sol ou chuva la fora
E não pretendo saber
Porque nesses dias, não me interessa existir
Nesses dias, eu não tenho CPF, identidade, telefone, quiçá um nome
Nesses dias, eu sou ninguém
E nesses dias, eu amo não ter de ser alguém
Nesses dias eu não tenho a menor intenção de estar em mim
Quero, nesses dias, me dá o direito de não pertencer
Quero ser ermitão
Quero uma montanha só minha
Quero habitar um espaço nada coletivo
Nesses dias, eu desejo mesmo ser ausência
Quanto menos, melhor
Nesses dias, eu só quero ser memória (boa ou ruim, tanto faz!)
Tem dias que eu morro
Tem dias que eu perco o viço, o riso, o tino…
Nesses dias, eu piro
Nesses dias, não lido com expectativas e ansiedades
Fujo do proceder real, caso contrário eu padeço
Não me culpe, se nesses dias, eu não lhe conhecer
Não é fingimento
Nesses dias, eu geralmente desisto
Mas uma coisa é certa: eu sempre renasço