Eu já tinha perdido o interesse
Pela vida
Pelo tempo
Por mim
Estava sem esperanças ou expectativas quaisquer
Parei de confiar, de acreditar, de querer
Praticamente respirando por aparelhos
Sobrevivendo ao meu caos,
Já estava conformado
Já achava que nada podia mudar, de fato
Dias ruins, outros menos ruins
Nada além do usual
E o usual era sempre tudo tão cinza e monótono
Não aguardava novidade alguma
Era tudo igual, os dias e as noites
Não sabia bem o que era sexta, nem segunda
Nenhum dia me parecia exatamente emocionante
Nem as horas, tampouco os minutos
Nem olhava mais o calendário
Não havia relógios
Parei no tempo
As coisas iam passando por mim e eu nem notava
Tudo dava sempre igual
Havia uma cegueira voluntária e uma vista preguiçosa
Nada me tocava
Não achava nada mais tão belo assim
Eu ia sumindo aos poucos, dentro de mim
Eu me encontrava num estado constante de impermeabilidade
Eu não absorvia e nem fazia questão de me ser tomado
Ia secando dia após dia
Eu ia murchando
Fui vivendo pela insistência dos astros, do destino, da matéria … não por mim
Por mim, fazia tempo que eu ja inexistia
Fui indo apenas
Tropeçando
Me perdendo e nem sempre me reencontrando
Eu vagava ao invés de caminhar
Meus passos eram tortos e soltos
Perdia a vontade, o desejo com facilidade
Me tornei um homem sem sonhos
Era como se eu tivesse saturado de mim
E era isso mesmo
Eu havia morrido
Um homem sem sonhos é alguém que, de fato, ja está morto
Foi necessário reativar-me
De algum lugar, de algum ponto eu tinha de recomeçar
Eu desisti do usual, desisti do ontem
Parei de carregar culpas e amarguras
Esvaziei a mala e o coração
Parei de pensar em quem eu fui
Tive de reestabelecer meus planos e trouxe de volta aquilo me deixa vivo: OS SONHOS
Eu me apaixonei por mim de novo
Eu reconquistei o meu amor próprio
E fiz as pazes com quem de fato importa
Parei de escutar ruídos alheios
E me afastei de energias difusas que só me distraíam
Comecei a convergir com aquilo que eu sentia, com o que vinha de dentro, com o que vinha de mim
Comecei a responder as minhas demandas, unicamente
Satisfazer as vontades e os desejos do meu eu
Tornar-me importante mais uma vez
Não aos olhos de quem me vê, isso não importava mais
Eu precisava me enxergar melhor e me ser mais cuidadoso
Voltei a vida
Hoje eu voltei a sorrir
Voltei a me exercitar
Hoje eu respiro por conta própria
Quando estou perto do mar, respiro até melhor
Não preciso mais de drogas nem de fingimentos
Reconectei-me com o simples que me engrandece e refiz alguns laços que havia deixado pelo caminho
Já me desculpei com alguns
E com outros não vejo necessidade, mas tenho respeito pelas suas trajetórias
Ainda tropeço em mim, diariamente
Mas não dificulto meu caminho
E também não me obrigo a nada
Não estou buscando a perfeição
A minha única obrigação, desde então, tem sido SER FELIZ!