Primeiro Dia
Primeiro Dia

Primeiro Dia

Ontem eu morri

Era diferente de tudo que já haviam me dito antes sobre a morte, em si

Foi bonito e mágico 

Foi como uma jornada, uma viagem

Consigo me lembrar de tudo

Não tive medo

Eu revivi

Todos os dias se passaram como um raio na frente dos meus olhos

Renasci num novo ano

Ano novo, porém, tudo me parecia ainda muito igual 

Abri os olhos e parecia ainda com o mundo que eu tinha visto ontem

De fato, o era

Nada havia mudado radicalmente, além de mim

Só eu havia mudado

Era eu, só que diferente 

Não sei explicar direito quão diferente

Por fora, era o mesmo de ontem 

O mesmo de sempre

A mudança tinha ocorrido dentro de mim

Esquisito explicar, mas é mais fácil sentir

Nem sempre palavras descrevem corretamente o que se passa por dentro

Por dentro é tudo sempre mais confuso e iletrado 

Sentimentos, por vezes, são indizíveis, indecifráveis e inexplicáveis 

Azar ou sorte de quem os sente

Bom, eu havia mudado

Isso era um fato

Eu não era o mesmo que havia morrido em 31 de dezembro 

Recomeços 

Algo mudou e não pelos olhos de quem me vê

Só eu percebo essa mudança 

Ressurreição 

Era eu remontado, peça a peça, ressurgindo de todos os cacos perdidos que eu havia deixado pelo caminho

O novo eu somente ressurgiria e reviveria se todos esses pedaços pudessem estar colados e juntos de novo 

Era uma forma de culto ao sagrado 

Ao sagrado que eu havia sido e que não precisava ser perpetuado, mas lembrado com certeza

Era uma forma de reforçar que mudar era inevitável, mas só possível porque aqueles outros pedaços me compunham tanto quanto os novos pedaços que surgiriam

Aprendizados 

Foi uma morte lenta

Demorei 365 dias para entender que aquele outro “eu” havia de ser morto e sepultado 

Aquele outro “eu” não podia ser repetido nas próximas horas, nos próximos dias e meses

Caso contrário, a morte era definitiva 

Não haveria outros primeiros dias

Novas oportunidades 

Eu precisava me desapegava de quem eu fui

Metamorfose 

Renascimento

Descobri onde precisava de ajustes, onde doía, quem tinha de ser abandonado e que caminho não me agradava mais

Eu não podia jamais me abandonar

Deixaria hábitos que me distraíam e me atrasavam

Acordei com os olhos mais abertos e com o coração ainda mais repleto e atento

Ferido, mas vigilante e tão apaixonado pela vida quanto o “eu” de ontem

Morrer é de uma necessidade urgente que ainda não conseguimos compreender por completo

Renascer, a cada primeiro dia de janeiro, requer coragem e vontade de ser quem a gente precisa ser, sem perder a essência do que já fomos 

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